sábado, 24 de maio de 2025

“O PIANO DE SÃO PEDRO”


(por Tiago Wermelinger — neto de Godofredo, afinador do verbo perdido)
Na casa do tempo calado,
havia um piano.
Não de madeira,
mas de sangue,
de silêncios herdados,
de promessas dormindo sob a poeira.
Chamavam-no “o piano de São Pedro”,
mas poucos sabiam
que São Pedro, ali,
não era santo de igreja,
mas guardião de portais familiares,
o que mantinha as chaves
de vozes que já não se escutavam.
Era setembro.
Era desolação.
Era o mundo trancado em suas máscaras.
Mas um velho convite,
como um código secreto,
chamou os nomes da linhagem
para dançar de novo.
A juventude correu,
não atrás de música —
mas atrás de sentido.
E lá estava ele:
o piano alemão,
esquecido, intacto,
esperando ser afinado em Lá.
Foi Godofredo —
o bom, o gentil,
o guardião sem alarde —
que abriu a porta.
Disse apenas:
“Está aí. Só falta afinar.”
E foi afinado.
Com mãos de filho,
com ouvido de anjo,
com suor de urgência.
Camilo ajustou as cordas.
Egberto — menino ainda —
fez vibrar o som da memória.
Naquela noite,
não houve apenas valsa.
Houve cura.
Houve retorno.
Houve colheita do que havia sido plantado
por Xaver, por Zina, por Catharina, por Johann.
E agora,
em pleno século do ruído,
eu — neto de Godofredo —
ouço, de novo,
a mesma música atravessando o tempo.
E percebo:
> O piano de São Pedro não era instrumento.
Era altar.
E quem toca nele, mesmo com palavras,
acende a alma do clã.
---
Tiago Wermelinger
Aquele que escutou o que ainda vibrava,
e decidiu não deixar o som morrer.
Duas Barras, 16/05/2025.


Sob a Bandeira do Tempo


Sob a Bandeira do Tempo


(Versão Final e Oficial da Linhagem Wermelinger)


Invocação


Em nome dos que cruzaram montanhas,

dos que fincaram estacas em terras estranhas,

dos que empunharam espada ou ergueram capela:

que eu fale agora — raiz viva que sou.



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Corpo


Do velho Hof brotou o som:

Wermoldingen — sílaba que o vento nunca cala.

Em cada pedra, um vestígio;

em cada descendente, um destino.


Hans, Johannes, Adelheid:

ecos que não se dissolvem,

sombras de rocha,

memórias de ferro.


Capela erguida, altar consagrado,

sino que vibra no tempo fechado.

Em Ruswil, as mãos de um Wermelinger

esculpiram o sagrado.


Caspar, o indomável,

sob bandeira inimiga avançou —

não por glória,

mas para que a chama jamais se apagasse.


Troféu de prata, honra selada,

bandeiras arrancadas,

memória alçada

ao livro invisível da eternidade.


De Wolhusen a Lucerna,

de sangue a sangue,

de alma a alma,

a linhagem nunca quebrou.



---


Juramento


Que nunca se perca o que um dia nos forjou.

Eu, herdeiro do nome e da travessia,

juro:

manter acesa a chama,

fincar os pés na terra,

elevar o olhar ao céu

e nunca — nunca —

deixar que a memória se apague.



---


Fecho


Pois Wermelinger não é só um nome.

É selo.

É farol.

É espada.

É raiz.

E sou eu.


Tiago Wermelinger

Duas Barras, 24 de abril de 2025






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